Música para cortar os pulsos
"Eu ouço tanta música e penso se você ouve música e se é no celular, no computador, no rádio ou em CDs, e quais são eles. Se você canta junto, se estaríamos escutando os mesmos cantores no mesmo momento, porque o nome disso é sincronicidade. Se as músicas traduzem seus sentimentos tanto quanto os meus, quais então te explicariam a mim?".
"O nome disso é substituição. A Rosalind é a maior das personagens esquecidas de todos os tempos. Quase ninguém sabe, mas ela está ali, escondida, na peça Romeu e Julieta, de Shakespeare, que todo mundo conhece. Agora, quem lembra que Romeu era apaixonado pela Rosalind, antes de conhecer a Julieta, se nem ele mesmo lembra? E eu não estou falando de um tempo longo, não, eu estou falando de minutos. Ele ama a Rosalind, mas quando a Julieta aparece, uma nova realidade surge – é um Big Bang do amor, como se não tivesse existido nada antes. Mas tinha a Rosalind.
Isso não tem nem nome: a rapidez com que o Romeu simplesmente aniquila a Rosalind da cabeça dele é quase desumana. E o pior é que nós, como público, não nos preocupamos com o que sente a Rosalind, porque ela já é apresentada como um acessório na história do Romeu. Ela já nasce esquecida.
Eu ousaria acreditar que o mundo é feito das Rosalinds que sofrem, bem mais do que das Julietas que se deliciam na volúpia das noites de paixão. Metade do mundo, pelo menos. A outra metade é de Romeus que estão infinitamente confusos e em conflito entre uma e outra – sejam esses Romeus homens ou mulheres".
"Eu terminei recentemente um namoro de um certo tempo. Eu gostava dela, mas era como se eu nunca estivesse de verdade dentro daquilo, como se nessa hora eu fosse o dublê de mim mesmo. Funciona assim: eu sou o galã, o personagem principal da minha vida. Eu falo o texto do jeito certo, sou verdadeiro, carismático, razoavelmente inteligente e sedutor – na verdade, eu sou tímido, mas é incrível como as pessoas se sentem atraídas por isso. Só que nas sequências de perigo sentimental, o menor que seja, eu mando chamar meu dublê. Quem vê o filme pensa que sou eu mesmo ali, vivendo aquilo. Mas eu sei que não".